Mais ou menos aos dez anos dei na telha que queria tocar bateria. Nunca entendi muito de música, mas achava bacana aquele monte de tambores e pratos dourados brilhando quando via alguma apresentação dos artistas na televisão.
Naquela época não tinha MTV e os "clips" somente passavam no programa "Fantástico" domingo à noite. Ainda nessa época explodia o movimento chamado BRock, quando surgiram os Titãs, Legião Urbana, Ira!, e todas essas bandas que começavam a aparecer na televisão, no programa do Chacrinha, aos sábados fazendo "playback".
Desde então, mesmo sendo incipiente os meios de divulgação do rock (em Salvador só tinha uma emissora de rádio que tocava esse tipo de música, a Aratu FM) eu comecei a curtir o som.
Um pouco antes, em 1982 mais ou menos, Marcelo Nova, cantor do Camisa de Vênus, tinha um programa nessa emissora e durante um bom tempo eu ia para a escola ouvindo a música "Controle Total" no rádio do carro de meu pai. O refrão "grudou", comecei a gostar da banda e do tipo de música.
Quando vi uma bateria "ao vivo" pela primeira vez, fiquei fascinado com aquilo e definitivamente rolou que eu seria baterista e teria uma banda, não importa do que seria
Como não se pode ter uma banda de uma pessoa só, o lance seria encontrar pessoas que não a curtissem o mesmo tipo de som e tivesse a fim de tocar alguma instrumento, que não bateria....
Só que, sabe como é, estamos na Bahia e o que rolava era o "fricote" e "tititi" e eu era, de certa forma, um peixe fora d'água...
Até que em 1989 encontrei uma turma na escola que gostava de Raul Seixas, Inocentes, Replicantes... enfim, coisa boa, e além do mais, os caras tocavam!!!!
A história é a mesma: a gente se conheceu, rolou amizade, até que fui convidado para a casa do bróder para "levar um som"...
Chegando lá, tinhamos uma guitarra, uma caixa de som, e a bateria era a caixa e um ton de 16", um microfone e, para efetuar os registros, um gravador CCE duplo deck e uma fita cassete Basf Chrome 120 minutos...
Passamos o sábado numa garagem "tocando" e bebendo e gravando.... cara, aquilo foi sensacional, principalmente para a cabeça vazia de quinze anos de idade...
A partir daí, surgiu a semente da "banda", tinha um guitarrista e um "baterista", faltava agora um baixista...
O guitarrista conhecia um cara, mais velho, que tocava baixo. O problema era que ela tocava de verdade e nós, pretensos músicos e sem equipamentos....
Para continuar a empreitada, precisávamos ensaiar. Como não tinhamos um lugar para tocar, nós alugamos um estúdio, abro um parêntese aqui para explicar que nessa época, lugar para tocar era coisa difícil de achar , estávamos na era da tecnologia analógica, instrumento bom, tinha de ser importado e tudo isso era caro, muito caro.
O estúdio tinha que ficar perto da escola e de casa, para que tivéssemos condições de "fugir" das obrigações estudantis sem perder muito tempo, e o lugar era, talvez na época, o melhor estúdio de ensaio de Salvador e, consequentemente, o mais caro.
Juntamos grana, alugamos umas duas ou três horas para rolarmos um som e depois de muita expectativa, rolou o primeiro ensaio da "banda": logo de cara, ao chegarmos o primeiro problema: o estúdio tinha a bateria, mas não tinha os pratos para a bateria, que a gente tinha que levar.... eu nem imaginava que era assim. O assistente do estúdio, talvez compadecido da minha situação, arrumou uns pratos velhos e muito ruins, por sinal, que, naquelas circunstâncias se transformaram no que poderia haver de melhor no mundo moderno......
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