sábado, 22 de fevereiro de 2014

O IMPORTANTE É TER HISTÓRIAS PRA CONTAR - PARTE 9

Ou: porque deveria saber desde o começo que eu carnaval não é a minha praia.

Salvador.

Ano de 1986.

Estávamos vivendo o auge da explosão do que chamam de axé music.

Produção cultural local fervilhando: ampla cobertura na rádios e na tv, principalmente na TV Itapoan.

A todo momento apareciam novos artistas com sucesso imediato: Laurinha, Sarajane, Jorge Taime, Carlos Neto, Banda Mel, Djalma Oliveira...

E o mais retumbante de todos: o ícone, o mito LUIZ CALDAS.

O disco Magia, lançado em 1985 era tocado exaustivamente nas rádios e a música Fricote era sucesso nacional, Luiz Caldas era o maior nome da música baiana nessa época.

Eu um imberbe garoto de 11 para 12 anos, via aquilo com espanto assombroso, muito mais "vítima" da massificação da música e do "movimento".

Eis que chega a época do carnaval, e já me achando homem suficiente decido ir para a rua sozinho e ver ao vivo aquela galera toda, principalmente Luiz Caldas.

Então fui, escondido de meus pais e sem um puto no bolso.

O lugar mais próximo de minha casa era a Praça Castro Alves, que dava para ir e vir andando e chegar rápido em casa sem que Seu Jorja e Dona Rosa percebessem. Pelo menos assim eu achava que seria.

E no tão esperado dia, vou pra rua, era mais ou menos duas da tarde e saio sorrateiramente de casa e vou para a Praça Castro Alves, defronte ao Edifício Sulacap.

Como estava cedo, ainda tinha pouca gente na rua e eu achando que ficaria tudo assim. Foi quando tive o primeiro sinal que aquilo não era pra mim: nem tinha bem chegado e sou recepcionado por dois moleques mais ou menos da minha da idade que se esbarraram em mim e me derrubaram, quando estavam para finalizar o serviço, um dos dois diz: não é esse não... e desceram correndo no sentido da Castro Alves.

Refeito, fiquei esperando chegar a atração que me motivou estar lá, quando em pouco tempo, começo a ouvir o barulho do trio descendo a Avenida Sete. A expectativa aumenta e o número de pessoas chegando também. Em pouco tempo aquele espaço estava tomado de gente.

Até aquele momento eu nunca tinha visto tanta gente junta no meio da rua. E foi aí que tive o segundo sinal que aquilo não era pra mim.

Uma pausa: se hoje eu tenho um metro e sessenta e dois, em 1986 com eu devia ter, sei lá, um metro e trinta e oito e uma compleição física adequada para o meu tamanho.

Voltando. Quando o trio finalmente chegou eu vivi pela primeira vez em minha vida a fúria dos cordeiros de bloco, naquela briga territorial com a "pipoca".

Eu naquela agonia de ver o cantor, (bem, na verdade eu queria ver era Silvinha Torres, a backing vocal de Luiz Caldas) nem me dei conta da confusão que estava instalada. Era cordeiro empurrando prum lado, a pipoca se ajeitando no outro e eu no meio com o som comendo no centro

Nessa hora, que eu, grande desse jeito, fui levado nesse empurra empurra e comecei a perceber a merda que ia dar... já não era responsável pelos meus movimentos, estava indo no embalo da multidão, conduzida pelos delicados cordeiros do Camaleão. 

A primeira coisa que pensei foi que se eu perdesse os meus chinelos, como era que eu ia dar desculpa em casa. Um para de sandálias Samoa, novinha....

Foi nesse momento que ocorreu o momento mágico da festa: um cidadão perto de mim vomitou desesperadamente ao mesmo tempo que era levado pela massa e saiu premiando todo mundo que estava ali. Minha preocupação agora era de não ser agraciado com o produto de almoço, lanche e tudo o que aquele infeliz consumiu no dia e voltar pra casa daquele jeito.

Apesar de todos os percalços, vi Silvinha Torres, o trio parou bem ali e assisti ao show de Luiz Caldas.

Ainda bem que só descalço...


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